terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Sabotage

Mauro Mateus dos Santos (São Paulo, 3 de abril de 1973 — São Paulo, 24 de janeiro de 2003), mais conhecido pelo seu nome artístico Sabotage, foi um cantor, compositor, rapper e ator brasileiro. Mauro, pai de 3 filhos, nasceu na Zona Sul de São Paulo, onde, depois de ter sido assaltante e gerente de tráfico, encontrou a saída no rap, entrando na música e percebendo o seu verdadeiro dom. A origem do apelido Sabotage deu-se por estar sempre conseguindo burlar as leis com tremendo êxito, como entrar em bailes, festas e boates sem permissões, e saindo ileso de inúmeras confusões.
Considerado uma lenda na Zona Sul, ele inspirou vários rappers, como Rhossi, Pavilhão 9, além de ter ensinado Paulo Miklos como ser um digno malandro, no filme "O Invasor", de Beto Brant, com quem escreveu até uma música. Sabotage fez um único disco solo, o Rap é Compromisso!, e participou de vários CDs com o RZO, SP Funk e outros.
Em 2016, 13 anos após sua morte, o álbum que leva o mesmo nome do cantor foi lançado no serviço de streaming Spotify. Nele estão diversas canções feitas na semana em que o rapper foi assassinado.
Também fez parte de dois filmes, o já citado "O Invasor", e o premiado "Carandiru", além de ter recebido vários prêmios, como personalidade, revelação e outros no Hútus, o grande festival de premiação de rap no Brasil. Morreu com 4 tiros pelas costas em 24 de janeiro de 2003. Vale ressaltar que Sabotage era o próprio compositor e cantor de suas músicas. Ele foi enterrado no cemitério do campo grande no dia 25 de janeiro de 2003. Em toda sua carreira, compôs dezenas de trabalhos e alguns deles se tornaram uma espécie de hino para jovens da periferia. Para muitos, Sabotage é uma rica expressão da constante luta que o pobre enfrenta diariamente para viver dignamente e isso fez com que vários outros artistas usassem suas obras como samples, colagens e scratches de seus trabalhos.
Durante a adolescência, Mauro foi interno da antiga FEBEM (atual Fundação Casa) e traficante na Zona Sul de São Paulo.
Com a convivência junto ao crime na favela do Canão, ele acabou sendo indiciado duas vezes em 1995, uma por porte ilegal de arma, outra por tráfico de drogas. No final de 1998, mudou-se para o complexo Vila da Paz, onde, segundo a polícia, montou uma boca de fumo com o colega Durval Xavier dos Santos, o Binho. O problema era que já existia nas proximidades do local outro ponto de tráfico, desencadeando uma guerra entre as facções, acirrada após os dois assassinarem Euclides Menzes Pessoa, chefe da facção rival, em 1999.
Após a morte de Euclides, Sirlei Menezes da Silva assumiu o grupo e indicou Nivaldo Pereira da Silva, conhecido como Caçapa, como segundo na hierarquia da quadrilha. No ano seguinte, Sabotage se mudou para a favela do Boqueirão com o intuito de fugir da guerra. Binho continuou, tendo sido preso em 2002, mas em 14 de outubro do mesmo ano foi morto no Cadeião de Pinheiros 3 em um acerto de contas. E como suposta vingança a isto, Sabotage teria executado Denivaldo Alves da Silva, conhecido como Vadão, que era segurança de Sirlei, em 9 de janeiro de 2003.
Em outra represália, 15 dias depois, Sirlei, acompanhado de Bocão e o irmão de Vadão, assassinaram Sabotage. Um mês após o crime, Bocão foi morto.
Quando era menor se via naquela música "O Meu Guri", de Chico Buarque e se imaginava cantando. Em 1985, ele escreveu uma música e ensaiou, mas só pra ele mesmo. E usava o solo de uma música do Leo Jaime, pra cantar a sua rima em cima. Ouvia Afrika Bambaataa, Barry White. Dentre todos esses artistas ele se identificou muito com Barry White porque, como ele, Sabotage também perdeu seu irmão para o crime. Desde pequeno tinha mania de andar com um caderninho pra escrever música. As pessoas diziam:
"Meu, você é louco! Vai puxar uma carroça, pegar um papelão, jornal, levar um dinheiro pra casa."
E depois de ter sido reconhecido como rapper, elas se desculpavam: "Meu, eu não devia ter te falado aquilo." Sabotage sempre fez rimas, mas ele nunca se revelava musicalmente pra ninguém.
Aí em 88, 89, começou a se inscrever em concursos de rap. Num deles, no salão Zimbabwe, conheceu Mano Brown e o Ice Blue, ambos do Racionais MC's, que ficaram principalmente impressionados com performance dele. Nesses concursos você não podia ser muito contundente nas letras, mas na sua apresentação, Sabotage cantava uma música totalmente fora dos padrões do concurso, chamada "Na City".
E a galera não acreditava que aquele moleque tinha feito a música.
E foi com o grupo RZO (Rapaziada Zona Oeste), que, aliás, é conhecido por revelar talentos para o público fora do rap, Negra Li, por exemplo , que Sabotage viu seu trabalho repercutir no rap nacional especialmente após a gravação de várias músicas e vídeo clipes, bem como a apresentação destes em shows. Na sequência, Sabotage gravou seu primeiro e único disco solo, intitulado "Rap é Compromisso", gravado pelo selo Cosa Nostra, o mesmo que lançou o disco "Sobrevivendo no Inferno", dos Racionais MC's.
O lançamento do seu primeiro álbum e as participações em shows, sobretudo nos do RZO, renderam ao rapper o convite para atuar em filmes do cinema nacional e, com isso, ter seu trabalho apreciado e reconhecido por um público ainda maior. Ao todo, foram dois os filmes em que Sabotage fez atuações: "O invasor", de Beto Brant, e "Carandiru", de Hector Babenco. No filme "O invasor", Sabotage fez parte da equipe do filme desempenhando três funções distintas.
Participou da trilha sonora com cinco músicas (sendo três inéditas), serviu de consultor de "cultura da periferia" para moldar o personagem Anísio, interpretado pelo titã Paulo Miklos, e ainda por cima atuou no filme, interpretando ele mesmo, em uma cômica cena em que o personagem Anísio o apresenta para seus clientes "pedindo" um dinheiro para ele gravar seu CD. Já no filme "Carandiru", ele encarnou o personagem Fuinha e gravou uma das músicas da trilha sonora. Fez várias participações como na música "Dorobo" do BNegão; "Nem Tudo está Perdido" do Posse Mente Zulu; com Rappin' Hood; "Black Steel In the Hour of Chaos" com a banda Sepultura; com Helião, Sandrão, Negra Li, Negro Útil, KL Jay em Piri-Pac; com Jacksom, Trilha Sonora do Gueto e Z'África Brasil em "Giria Criminal"; e com Charlie Brown Jr. em "A Banca", "Marginal Alado" e "Cantando pro Santo".
 Um álbum póstumo está para ser lançado em 2010.
O músico fez sua estréia cinematográfica em O Invasor, do diretor Beto Brant. "Ele viu um vídeo em que eu cantava com o grupo RZO. E ele pensou 'esse cara é louco'". Mas a insanidade pareceu lógica para o diretor de Ação Entre Amigos e Os Matadores, que convocou Sabotage para uma entrevista. Durante a conversa, Brant apresentou o músico a Paulo Miklos, cantor do Titãs que encarnou Anísio, o protagonista de O Invasor. "Eu não conseguia parar de rir da cara dele!", diz Sabotage. Apesar da descontração, o rapper fez questão de palpitar no roteiro da produção, apontando erros em relação à vida na periferia. Acabou consultor técnico e "treinador" de Miklos na área de fala e gírias. O roteiro da fita foi escrito por Brant e Renato Ciasca em parceria com o autor do livro O Invasor, Marçal Aquino.
Para Sabotage, Aquino reflete com perfeição o dia-a-dia da periferia. "Ele não esconde nada, eu acho isso muito bom.
Eu li aquele livro dele, o Faroestes e é veridicão. Aquela placa com os tiros na capa...", contou, lembrando que o escritor é também uma inspiração. "Eu quero chegar à idade dele do jeito que ele é. Eu chamo ele de garotão. Ele é ligado, comenta as coisas que viu. Por isso faz os livros daquele jeito."
O cantor, agora convertido a ator, passou a integrar o meio do cinema. Durante as filmagens de O Invasor, Brant teve a prova da influência que o rapper tem na periferia. "O Beto me falou: 'Sabota, aqui no mesmo lugar onde nós fizemos este filme, já me levaram todo o equipamento antes'. Porque é assim: a periferia sabe quem está explorando ela." Hector Babenco – diretor de Carandiru (baseado no livro de Dráuzio Varella, Estação Carandiru) veio a conhecer Sabotage durante as filmagens de O Invasor, o diretor comentou com Brant sobre um preso, condenado a 29 anos de cadeia, o Velho Monarca.
Com a descrição, descobriram que ele era tio de Sabotage. "A mesma idade que eu tenho aqui [29 anos], ele vai passar lá [na cadeia]", lembra o rapper. Contato estabelecido, ficou determinado que o artista interpretaria o personagem Fuinha, além de cuidar de músicas para a trilha sonora do filme e do making of . E a parceria com Babenco foi além, gerando, inclusive, uma música. "Imagina ele falando pra mim 'águas turvas', com aquele espanhol! Pra pôr isso numa rima foi foda, mas ficou muito classe!." Em Carandiru, Sabotage também voltou a atuar como consultor técnico. Foi ele quem conseguiu os figurantes para as cenas que exigiam um número grande de pessoas.
Era manhã do dia 24 de janeiro de 2003, em frente ao número 1877 da avenida Abrão de Morais, no bairro Saúde, perto de sua casa, Zona Sul de São Paulo, quando Sabotage levou sua mulher, Maria Dalva da Rocha Viana, ao ponto de ônibus. Na despedida, disse à esposa que iria para o Fórum Social Mundial de 2003, em Porto Alegre. Após entrar no carro, segundo testemunhas, foi abordado por um traficante que disparou quatro vezes. Sabotage foi atingido com dois tiros na coluna vertebral, enquanto os outros dois atingiram sua mandíbula e sua cabeça.
O rapper foi encontrado ao lado de seu carro, às 5h50.
Ao seu lado foi encontrada uma máscara preta. Ele chegou a ser reanimado por 30 minutos no Hospital São Paulo, mas, devido ao estado considerado gravíssimo, não resistiu. Especulações sobre o assassinato apontam várias causas. Entre elas, o envolvimento do rapper com o mundo do crime como uma possível razão para o ocorrido. Seus amigos e familiares, no entanto, não concordam com essa hipótese, visto que Sabotage desistiu da bandidagem 10 anos antes de sua morte. O enterro ocorreu no dia 25 de janeiro de 2003, onde a esposa do rapper, Dalva, não permitiu a entrada da imprensa.
"Sabota", como também era chamado, nunca escondeu de ninguém seu envolvimento com os atos ilícitos no passado de sua vida. Em depoimentos à Revista MTV de agosto de 2002, o rapper alegou:

"Moro na favela desde os 2 anos e, dos 8 aos 19, andei no crime que nem louco. Saí por causa de Deus, porque polícia não intimidava, tapa na orelha só deixa a criança mais nervosa".
Sabotage estava em uma fase tranquila de sua vida e não possuía inimigos quando foi morto.
Na comunidade do Boqueirão, no bairro Jardim da Saúde, em São Paulo, Sabotage viveu os últimos três anos de sua vida com seus filhos, Wanderson do Santos e Tamires do Santos.
O julgamento do assassino de Sabotage estava previsto para iniciar em 28 de abril de 2010, aproximadamente 7 anos e 3 meses após o acontecimento. No entanto, ele acabou sendo adiado para 12 de julho pela ausência de uma testemunha imprescindível pela acusação, segundo a juíza Fabíola Oliveira Silva. O processo foi reiniciado na data prevista, então contando com todos os integrantes necessários. O julgamento durou dois dias, com Sirlei Menezes da Silva defendendo-se das acusações negando a morte de Sabotage, alegando torturas e colocando a culpa no Primeiro Comando da Capital, o PCC. A defesa questionou as provas e a conduta da polícia, obtendo como réplica a acusação de que Sirlei fez uma festa para comemorar o assassinato do "inimigo". Aproximadamente às 17h30 de 13 de julho, o júri se reuniu para decidir se condenava ou absolvia o réu. Às 18h, o resultado se tornou público: Sirlei Menezes da Silva foi condenado a 14 anos de prisão.

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